A Senhora do Ó é uma devoção mariana muito importante em Portugal, no Brasil e no Oriente. A Senhora do Ó refere-se a gravidez de Maria anunciada pelo Arcanjo Gabriel.
O culto à Nossa Senhora sempre foi um culto clássico no Oriente (Maria como Theotokos), diferentemente do Ocidente. Na contramão dessa orientação eclesiástica Portugal, desde o início da nacionalidade, manifesta inúmeras formas de devoção/culto à Virgem.
O Papa Gregório XIII admite o Culto à Nossa Senhora do Ó. O Concílio de Trento vai proibir o culto a Nossa Senhora do Ó. A censura tridentida sobre Nossa Senhora do Ó teve 3 modalidades para acomodá-la às novas regras do “decoro”: 1) as imagens tinham que ser enterradas, desaparecidas. Para tanto, serão enterradas no aro da igreja. Mesmo quando uma imagem é quebrada dentro de uma igreja por um ato de vandalismo a imagem não pode ser simplesmente descartada, jogada, fora, porque, não se trata de uma mera “imagem”, uma “estátua” pura e simples. A imagem, sob a perspectiva religiosa não é uma “imagem”, é Algo além; 2) acomodar a iconografia da imagem (explico abaixo como era a imagem pré-conciliar); 3) procedimento da conciliação. O que é isso? Nossa Senhora do Ó tinha uma determinada indumentária antes de Trento. Depois, ela será revista, repintada, refeita. Seria preciso entender com profundidade porque o Concílio de Trento julga “improcedente” as imagens de Maria grávida. Mas isso não é assunto para esse post.
Qual a imagem o Concílio de Trento condenou? As antigas iconografias que apresentam Maria grávida com o ventre entumescido, volumoso, rotundo, a mão esquerda pousada sobre o ventre e a direita levantada em sinal para receber o FIAT LUX. Essa imagem é genuinamente Peninsular, característica da Península Ibérica.
Qual a imagem “acomodada” segundo as regras do decoro pós-Concílio de Trento, ou seja, qual a imagem que pode ser cultuada pós Concílio? Aquelas onde desapareceram os vestígios da gravidez, o gesto receptivo do FIAT LUX e onde a indumentária foi “conciliada”.
As imagens anexo, trazem esse histórico: 1) 4 imagens portuguesas antiquíssimas de Nossa Senhora do Ó antes de Trento (proibidas); 2) cartaz da Festa de Nossa Senhora do Ó em Nísia Floresta/RN onde a imagem está consoante as 3 regras da censura de Trento; 3) cartaz do Círio de Nossa Senhora do Ó em Belém/PA onde a imagem faz uma volta para escapar a censura tridentina mesclando a gravidez de Maria ( o único ítem que se conserva da imagem pré-Concílio) com a indumentária conciliada e as mãos sem o sinal de recepção do FIAT LUX.
Toda imagem tem ATRIBUTOS, GESTOS, ROUPAS, etc, específicos. Na arte religiosa (a verdadeira) NÃO há espaço para interpretações, para modismos do artista. A imagem não é uma mera imagem. O símbolo tem significado próprio não se atribui significado à símbolos, nem se os interpreta consoante o gosto do artista. O SAGRADO é IMUTÁVEL. E tudo o que se refere ao SAGRADO, ao TRANSCENDENTE, ao DIVINO obedece essa “regra”.
Portanto, quando você se deparar com uma dessas imagens já as saberá identificar.
ICONOGRAFIA É ALTA CULTURA.