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A TRANSFORMAÇÃO DE PORTUGAL SEGUNDO AGOSTINHO DA SILVA- BREVE APROXIMAÇÃO

por Paulo Rodrigues Ferreira

[…] O Portugal futuro desenhado por Agostinho da Silva é pouco claro, e nesse sentido contrasta com o trabalho levado a cabo, por exemplo, por Raul Proença, Jaime Cortesão ou António Sérgio, figuras ligadas à “Seara Nova”, revista a que também Agostinho esteve ligado. Ao contrário destes conhecidos nomes, que apresentaram propostas concretas, ligadas ao desenvolvimento económico e material, Agostinho da Silva pautou-se por utopias […]


Não obstante seja para o futuro que Agostinho aponta, é no passado que a sua obra se move, na glorificação dos heróis nacionais, na defesa do que é mais tradicional e puro na cultura portuguesa. Por outro lado, mais do que exaltar o espírito dos Descobrimentos, como fizeram tantos outros autores, interessa a Agostinho destacar as lutas pela independência contra Castela. Observa mesmo que o que Portugal fez de maior no mundo não foi nem o Descobrimento, nem a conquista, nem a formação das nações ultramarinas, mas o ter resistido a Castela. E no seu entendimento não houve batalha mais importante na Europa do que a de Aljubarrota. E era por tanto e tão bravamente ter resistido às pressões castelhanas que Portugal representava uma esperança de “futura liberdade” para as outras nações da Península: “Portugal é, de todos os cantos da Península, o único que tem verdadeiramente génio político, talvez, de todas as gentes que falam latim pelo mundo, o único real herdeiro do povo romano”. Contudo, este mundo profundamente nacionalista de Agostinho da Silva é também idealista, utópico, isto é, irreal, “não das existências mas das essências intangíveis, puramente ideais”, sempre do futuro, às vezes imaginário, como aquele em que se imagina D. João VI a decidir criar um universo português feito de nações independentes e livres com o seu centro de gravidade não mais em Portugal, mas no Brasil. Paradoxalmente, este alargamento de Portugal ao Brasil não era visto por Agostinho como uma forma de tornar Portugal cosmopolita, antes como um modo de livrar o país das daninhas influências europeias que não o tinham deixado ter nem regime cultural, nem acção política “verdadeiramente adequadas à sua mentalidade”[1].

[1] SILVA, Agostinho da. “Só Ajustamentos”, Salvador da Baía, Imprensa Oficial da Bahia, Salvador, 1962, p. 106.

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